Por que estourou a Segunda Guerra Mundial?

Entenda os principais fatores que levaram ao início da Segunda Guerra Mundial: a ascensão dos regimes autoritários, a crise de 1929, o enfraquecimento das democracias e o colapso da Liga das Nações. Um panorama histórico explicado de forma clara e envolvente.

A Segunda Guerra Mundial não surgiu do nada, como um trovão num céu azul. Ela foi o resultado de uma tempestade longa, cheia de nuvens pesadas que se acumularam ao longo dos anos. Um dos ingredientes mais visíveis dessa tempestade foi a ascensão dos regimes autoritários — mas, como lembra o historiador René Rémond, “ela aparece, ao exame, como a resultante de vários fatores que somam seus efeitos” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.7.1). Ou seja, não dá para apontar um único culpado.

Entre esses fatores, podemos destacar alguns pesos-pesados: o ressentimento mal digerido da Primeira Guerra Mundial, a quebradeira econômica dos anos 30, o enfraquecimento das democracias e o colapso da tão esperada ordem internacional criada pela Sociedade das Nações.

Depois do fim da Primeira Guerra, os tratados de paz de 1919 — em especial o famigerado Tratado de Versalhes — deixaram gosto amargo nos países derrotados. O sentimento de injustiça e sede de revanche fervia. Rémond explica que “a força do sentimento revisionista variou ao longo do período” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.7.1). Mas, quando Hitler chegou ao poder, essa chama se transformou num incêndio.

Como se não bastasse, veio a crise econômica de 1929, sacudindo o mundo inteiro. Os países, assustados, fecharam suas fronteiras comerciais e começaram a se armar até os dentes. A “política econômica de inspiração nacionalista” deixou todo mundo pronto — mentalmente e materialmente — para um novo conflito (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.7.1). Como Plourde resume bem: “era necessário mudar de política e aceitar que os poderes públicos tivessem um papel central na economia” (Plourde, HST-1008, aula 9).

O mundo estava quebrado economicamente e dividido ideologicamente. O livro A Era das Revoluções pinta esse cenário sombrio: “a intensificação da luta de classes provocada pela crise levou certos políticos a considerar as relações internacionais em termos binários: fascismo contra comunismo, direita contra esquerda, democracia contra ditadura” (Roberts, J. M. e Westad, O., t. 3, Perrin, 2018, p. 384). Em outras palavras: era como um jogo de “nós contra eles” jogado em escala planetária. Aonde será que eu vi isso?

Enquanto isso, o sucesso dos regimes totalitários corroía a moral das democracias. O nacional-socialismo, depois de dominar a Alemanha com propaganda e repressão, começou a sonhar com um mundo moldado a sua imagem. Hitler justificava suas agressões falando em “direitos dos povos” — mas era pura desculpa para expansão territorial. Como alerta Rémond: “é em nome do direito das minorias que o nazismo vai desmembrar a Tchecoslováquia e a Polônia” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.7.2). Bastava haver alemães morando em algum lugar, e pronto: pretexto para invadir. Aliás, esse truque parece meio familiar, não?

O desmembramento da Tchecoslováquia, aliás, mostrou o fracasso das democracias ocidentais. Após os Acordos de Munique, os líderes Chamberlain e Daladier voltaram para casa se sentindo heróis da paz. Mas Churchill cravou, numa frase que ficou famosa: “Vocês tiveram que escolher entre a guerra e a desonra. Escolheram a desonra e terão a guerra” (Plourde, HST-1008, aula 10). Infelizmente, ele estava certíssimo.

Outro desastre foi o colapso da Liga das Nações, aquela que deveria garantir a paz mundial. Só que não. Quando a Itália invadiu a Etiópia em 1935, ficou claro que a organização era forte só no nome. E, mais uma vez, a pergunta se impõe: não estamos vendo cenas parecidas nos noticiários hoje? Embora existisse um pacto para evitar agressões, “não se tratava mais da conquista de um território mal policiado, mas de uma guerra desencadeada por um membro da Liga das Nações contra outro” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.7.2). Sem punições reais, a mensagem foi clara: agressão compensava.

Fechando o ciclo, ainda tivemos a diplomacia oportunista de Hitler e Stalin. O pacto de não-agressão germano-soviético, assinado em agosto de 1939, foi o último empurrão para a guerra: permitiu à Alemanha atacar a Polônia sem medo de retaliação. E o pior: o acordo vinha com um protocolo secreto, dividindo a Europa Oriental entre União Soviética e Alemanha Nazista como se fosse um tabuleiro de xadrez (Plourde, HST-1008, aula 10).

Resumindo: o nazismo, o fascismo e o comunismo (mesmo que viesse a mudar de lado) foram os grandes motores da guerra, mas a tragédia só se concretizou porque uma série de fatores — políticos, econômicos e ideológicos — empurrou o mundo para o maior conflito da história.

Bibliografia

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